sábado, 20 de agosto de 2011

30. Desconstrução, différance ...


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L.T. : Prosseguindo com o teu e-mail de 4/6/2011 onde escreves sobre a desconstrução da oposição sujeito / objecto. Consultando principalmente o cap. 2, 'Qu-est-ce q'une Scène ?' do Le Jeu des sciences e também Heidegger pensador da Terra.
Quando com o in-fans vem uma voz nova, pelos pais, professores, etc., inconfundível com a destes em retiro doador, a différance é-lhes prévia. É trace, grama, inscrição, doação, retiro doador entre outros retiros como escreves. Daí a autonomia e heteronomia apagada. Ela é prévia. Mas não é da ordem da anterioridade no tempo. As questões do tempo, da temporalidade, da destinação, destino (Geschick ) da história (Geschichte ) são decisivas aqui? Escapam-me ainda muitas coisas na viragem fascinante Sein und Zeit e Zeit und Sein. Heidegger escreve algures "o futuro é condição de temporalidade".
É que, no contexto da "diferença significante / sons [...] aquele [...] de diferenças sonoras feito, ou de diferenças entre significantes [...] diferença, sendo entre 'sensíveis', não é nem sensível nem inteligível, argumento forte de 'La différance ', nas Marges", digamos que a différance (Derrida) vem aos entes in-fans.
17/6/2011
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F.B. : "a différance é-lhes prévia": ela é a doação do jogo de diferenças (língua, saber) com retiro do som, da voz dos que ensinam, esse som como autoridade (donde heteronomia) que tem que ser apagado, esquecido, para que a différance seja autonomia no novo som, da nova voz. Ora a différance, nesse texto das Marges, onde se fala do seu enigma, é simultaneamente mesmo de economia e outro de excesso: o mesmo é o jogo de diferenças, a mesma língua, a alteridade 'passa' duma voz a outra, a nova voz vem da antiga. O 'passa' é aprendizagem, a différance ou trace como relação estrutural ao outro. Obrigado pela questão, é a primeira vez que tento articular a différance com a doação dissimulada.
18/6/2011
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F. B. : Volto à différance e doação retirada. Nesta, seja Ser, seja depois Ereignis, o que é doado são 'entes', é por que isso funciona bem com as espécies biológicas que dão os indivíduos que nascem, sem serem indivíduos, sendo Nada (que só há aonde há indivíduos). Na différance do Derrida, são 'entes' que 'doam', ou melhor é deles que sai doação, différance num e noutro. Enquanto que no Heidegger, 'forço-o' do Ser / Ereignis para os entes, do ontológico para o ôntico, e encontro a espécie biológica 'sem saber como', sem saber de biologia, no Derrida sei que é o programa genético (numa célula, de óvulo a zigoto) que é doado depois de reduzido (gâmetas). Há uma maior 'precisão' ontológica no Derrida do que no Heidegger, só com aquele aliás é possível interpretar assim o Heidegger (creio); essa precisão permite prescindir do motivo de 'ser' ou de Ereignis, de diferença ontológica. Parece-me.
Mas não sei se isto tem incidências em química dos átomos e moléculas, julgo que a différance ou trace só jogam a partir da vida, o Derrida usou mesmo a expressão 'trace vivante' no diálogo com a Roudinesco.
Puseste também 'desconstrução' no título, mas só se fala de 'différance'. Esta resulta daquela como operação de pensamento que busca 'desfazer' ou 'desconstruir' as fortíssimas oposições conceptuais 'construídas' pela tradição filosófica e teológica ocidental.

19/6/2011
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Fotografia de Derrida:
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Cortesia:
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