sexta-feira, 30 de março de 2012

52. Heidegger, pensador da Terra


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30 de Março de 2012, às 21h30
Lançamento de Heidegger, pensador da Terra, da autoria de Fernando Belo.
2ª edição, acrescentada de alguns textos posteriores, do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.
Na Sala Eduardo Prado Coelho da Fábrica de Braço de Prata, com apresentação por Irene Borges Duarte e Nuno Nabais
Embora deteste a mania actual dos rankings e apesar da mancha intelectual que representa a sua adesão ao nazismo, tenho Heidegger como o filósofo mais importante do século XX.
O que chamamos filosofia, textos gnosiológicos de argumentação sobre essências, não teria passado de ‘literatura sapiencial’ sem a invenção da definição por Sócrates, Platão e Aristóteles : ela arranca os entes ao contexto do seu mundo para, comparando-os assim, lhes definir essências intemporais aos olhos da ‘alma’. Também os laboratórios científicos (Galileu e Newton consideravam-se filósofos da Natureza) retiram os fenómenos a conhecer do mundo, fazem deles ‘objectos’ para ‘sujeitos’ (Descartes, Kant).
Ora, o motivo do ser no mundo de Heidegger consiste na inversão desse movimento de arrancar ao contexto, no retorno do pensamento filosófico ao nível 'existencial' dos humanos, aquém da definição, permitindo indagar das implicações desse gesto inaugural, ultrapassar enfim dicotomias com mais de vinte séculos – ser e tempo, alma e corpo, sujeito e objecto – , ganhar uma compreensão global da história filosófica e científica do Ocidente, no tempo em que o que ela permitiu produzir como técnica estava a começar a espalhar-se pelas outras grandes civilizações do planeta (F. B.).

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terça-feira, 20 de março de 2012

51. Nem materialismo nem idealismo, pois. Vídeo: Dieu est-il marxiste? - Apostrophes - 03/10/1975




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L.T. : Consideras-te um autor de vertente materialista?

20/03/2012

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F.B. : Acho que não respondi à tua questão sobre os nomes (vj mens. 50). Não me espevita muito; no texto sobre o chinês, logo no princípio, falo do efeito de denominação: é a primeira operação de redução do pensamento humano, um nome dá para inúmeras coisas diversas, particulares.

O 'materialismo' opõe-se ao 'idealismo' e 'espiritualismo'. É da oposição que me habituei a desconfiar, o Derrida teorizou isso muito bem com a desconstrução. Esta tem dois gestos diante duma oposição desse género, tradicionalmente hierarquizada: 'corpo' e 'matéria' submetidos a 'alma' e 'espírito'. O primeiro gesto é inverter a oposição, fazendo valer a subordinada, mas o segundo é deslocá-la em seguida para encontrar o que gerou politicamente, em sentido geral, a oposição. Assim fez o Derrida com a oposição parole / écriture, a voz do logos mais perto da alma: inverteu de maneira a dar a ver que a 'fala' também releva duma inscrição prévia (aprendizagem). O inteligível, diz ele algures, é o sensível diferido. Por exemplo, dos sons duma fala ou dos riscos dum texto, coisas sensíveis, as suas 'diferenças' (que já não são sensíveis mas não se desligam dos sons ou dos riscos) jogam entre si de forma a criarem sentidos (que permitem falar de 'ideias', por exemplo), mas que nunca largam também as diferenças entre sensíveis, não são nunca inteligíveis 'puros' (e toda a pureza nestas questões, é de 'sensibilidade', corporalidade, materialidade). Nem materialismo nem idealismo, pois.
O drama do materialismo soviético foi que eles deram cabo de tudo o que não era materialista, como eles achavam (o cristianismo fez o mesmo no final do século IV quando se tornou 'dominante', incendiaram tudo o que era 'pagão').
Em relação à minha leitura 'materialista' do evangelho, chamei este meu último texto 'ensaio de fenomenologia histórica' e procuro andar ao rés dos textos, guardar o 'pneuma' por exemplo, enquanto 'sôpro' e sublinhar como Orígenes faz dele uma "hipóstase intelectual". A questão é a de saber como é que os gestos e os textos que a fenomenologia procura ler geram mais do que 'matéria', ou dito de outra maneira, como é que eles são pujantes, vão além daquilo que comummente a 'matéria' não consegue. É nesse resultar algo além do que se pode que leio um sôpro que se pensou vindo de Deus. E penso que o Levinas fez isso muito bem, ainda que eu tenha uma ou outra resistência a pontos menores.

20/03/2012


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L.T. : Pujante resposta. Muito obrigado.

21/03/2012
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Emmanuel Levinas - La Responsabilité pour Autrui:




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Jacques Derrida on photography:


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Sobre o cristianismo:http://phenomenologiehistorique.blogspot.pt/

Sobre "Dieu est-il marxiste?" ver vídeo na integra:





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Final da segunda parte do bLogos
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