sábado, 20 de agosto de 2011

8. Zona não fenoménica correlativa.

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L.T. : Há uns dias fui tomar um café com o Edmundo Cordeiro. Depois ele convidou-me a assistir no cine-clube da Lusófona – onde dá aulas – a um filme-documentário sobre caçadores do Quebéc. O realizador é canadiano e chama-se Pierre Perrault. Deixo aqui um extracto:
O Edmundo está a fazer um estudo sobre aquele cineasta, poeta, dramaturgo, etc. Não o conhecia. Interessante.
Nesse encontro falámos de vários assuntos e de computadores. Foi sobre estes que ele me disse que do seu ponto de vista o computador é fundamentalmente uma máquina de escrever. Que tem a vantagem de mais facilmente se voltar atrás, copiar, corrigir, alterar os textos, etc. Coisas que as antigas máquinas de escrever não tinham (o Fernando também escreve sobre isto). Mas não tem o traço, disse ele, como acontece com a caneta (ou lápis) e papel. E eu acrescentei: ‘la trace’.
25/03/2010
F.B .: Bem hajas!
Boas coisas (As 'boas coisas' aprendi-as dum velho filósofo de Lovaina com quem tive aulas).
25/3/2010
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L.T. : O Gilot (Fernando Ruy dos Santos Gilot), distinto ex-professor de filosofia do liceu Camões - de quem não fui aluno mas com quem travei poucas mas boas conversas, dizia-me por vezes à despedida: "Sistematize! Sistematize!" Será que devo?
Questão: Podias explicar um pouco a questão da "zona não fenoménica correlativa" que analisas nos teus textos?
PS: "[...] o logos que sofre em nós a todo o instante. Isto veramente é aquilo." James Joyce, Ulisses, Difel, trad. Houaiss, p.141.
3/04/2010
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F.B. : Sistematizar é necessário, mas depende do quê. Há coisas, em arte nomeadamente (onde sou nulo, apesar dum nome que deveria predestinar-me), onde ela não é possível. O problema da sistematização, do ponto de vista destes meus textos últimos, é o lugar do 'enigma' humano: desaparece? fica de fora (como 'sujeito')?
Quanto ao 'não fenoménico', trata-se da zona retirada estritamente para que haja 'fenómenos'. O núcleo do átomo, com suas forças nucleares, retirado estritamente quer das transformações químicas quer da gravitação, torna possível átomos, moléculas, graves, vivos. O ADN, retirado estritamente do metabolismo da célula, torna-a possível como viva, e o organismo. O paradigma dos usos de qualquer unidade local social (família, fábrica, escola), retirado estritamente (privado) da rua das multidões, torna possível o funcionamento, a reprodução dessa unidade social. Os fonemas e as letras, retirados estritamente da significação, tornam esta possível. A pulsão incestuosa interditada como inconsciente torna possíveis amores e rivalidades das gentes.
5/04/2010
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