sábado, 20 de agosto de 2011

20. Significante, Différance, Derrida ...





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L.T. : Estou a ler coisas de Saussure, Derrida, Martinet, etc. Há uns anos numa conversa contigo sobre o projecto de um trabalho para Filosofia da Linguagem coloquei uma questão que não cheguei a desenvolver: em différence e différance, o significante é o mesmo mas o significado é diferente. Esta questão faz algum sentido?
27/03/2011
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F.B. : O significante S não é o mesmo, 'e' é diferente de 'a'. Mas em francês, oralmente o S é o mesmo, não em escrita, é nisso que joga o Derrida, o 'a' introduzindo como 'signifié ' (significado é outra coisa, é o que vem nos dicionários, em francês 'signification') o tempo que différence não contém (nem diaphora ), e também o conflito, metendo no jogo também o 'd' de différend em lugar do 't'. O que é interessante na tua questão é que ela obriga-me a pensar num aspecto imprevisto: é possível dizer o interesse do 'a' de Derrida em termos da dicotomia S/s, ou justamente este jogo e/a/ e t/d baralha a dicotomia, que foi sempre posta pelos linguistas em termos de oralidade? O que sem dúvida faz parte do gozo do Derrida, mas a que não terá prestado grande atenção, é um gozo limitado. Não há 'linguística da escrita', a gramatologia - que ele propôs mas não fez - era muito mais do que isso. A questão será: não há porque nunca ninguém o tentou, ou porque não pode haver? Se for este o caso, porquê? É o problema do alfabeto, que é uma 'transcrição' de fonemas por letras, mantendo-se, em princípio, a palavra escrita tal como a oral (ao contrário da matemática ou do chinês). É talvez este 'em princípio' que o e/a põe em questão: particularidade do francês? Excepção? Não sei dizer (uma das diferenças no sistema duma frase oral e da mesma frase escrita, é que nesta há espaços entre as palavras e não quando falamos, as palavras da frase saem coladas umas a seguir às outras).
Mas sobre a linguística ser do oral (com a sua notação fonética, nomeadamente) há que constatar que ela faz-se de facto por escrito, os exemplos analisados, a fonética - onde a escrita é mais problemática - resolveu o problema (se resolveu) inventando uma escrita, um alfabeto!
29/03/2011


Imagem: pintura - obra plástica de Luís de Barreiros Tavares


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Fotografia de Fernando Belo - por Luís Tavares


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