segunda-feira, 19 de março de 2012

49. "As fontes e os autores que escolhemos... ou são eles que nos escolhem?" F.Belo


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L.T. : Gostaria de voltar às questões da mensagem '47'. Talvez este texto te mostre algumas dificuldades da minha parte em compreender o que foi tratado ali. Mas estamos aqui para estas coisas. É cada vez mais difícil, senão impossível, ler hoje todos os autores e todos os textos, estando mesmo a falar somente dos chamados 'incontornáveis' ou pensadores de 'renome'. Ora, até quanto a estes não há total unanimidade. Continua a haver opções por este ou aquele. Quanto aos de menor 'nomeada', também os há com textos tidos como extraordinários e de excepção, como sabes. E estes ainda são menos susceptíveis de unanimidade (mas talvez a unanimidade não interesse muito aqui). O Padre Manuel Antunes, cujas aulas se dizia serem 'magistrais' e enchiam o Anfiteatro da Faculdade de Letras de Lisboa, às quais não tive o privilégio de assistir, mas de quem cheguei a ler textos atentamente, dizia: "ir à fontalização". Ir, portanto, às fontes. Concordo e respeito essa posição. Não sem colocar uma pequena observação na continuidade do que escrevi acima : mas não será ainda preciso escolher as fontes de entre as fontes? Escolhemos por vezes um ou mais autores cujas linhas de pensamento nos motivam especialmente. Lemos, escrevemos, pensamos autores lendo, escrevendo, pensando outros. Juntamos o útil ao agradável e creio ser legítimo. Heidegger foi longe neste trabalho e Derrida ainda mais, conforme é assinalado na mensagem '47'. Esta economia, se posso dizer assim, parece ser cada vez mais compreensível e desejável nos nossos tempos. A) Não será esse um dos motivos pelos quais "o Levinas disse do Derrida que ele mostrava como "a história da filosofia não é provavelmente senão uma consciência crescente da dificuldade de pensar"? " Se é assim para os filósofos, pior um pouco para os cientistas e para os que querem aliar uns e outros. Só um louco..." (no final da tua resposta da mensagem 41). B) Daí que esse trabalho, essa economia de Derrida - como tentativa de superação desta 'dificuldade' que está relacionada com a fragmentação e estilhaçamento dos saberes, para os quais chamas a atenção - poderá constituir um dos pontos chave do seu pensamento? C) Será esta uma maneira de atenuar os conflitos a propósito de quem entra ou não em domínios que não lhe compete? 

Não sei se estou a repetir-me de novo. Não sei se compreendi bem a tua resposta na 47. Ou talvez me tenha desviado dela um pouco.
17/03/2012
F.B. : Ora bem. Vou talvez repetir-me também. Eu não sei se nós 'escolhemos' as fontes, os nossos autores de referência ou se são eles que nos escolhem, isto é, quando damos por isso já estão 'escolhidos'. Porque o que verdadeiramente decide nos nossos percursos são as questões, são elas que nos levam a ler tal e tal autor ou texto e por aí somos agarrados. Sem questões não se vai a lugar nenhum, nem se sabe onde se está. Por outro lado, se é certo que a formação académica em filosofia apresenta questões clássicas e por isso torna mais difícil descobrir questões novas, também é certo que essa formação é necessária para trabalhar com alguma pertinência as questões que se descubram. Isto, a meu ver, no que diz respeito a ler, escrever, pensar.
17/03/2012



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