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L.T. :
“O problema manifesta-se ainda na sua [Feynman] concepção de força como interacção, a da gravidade sendo uma interacção a distância (p. 57), o que parece significar que a força é pensada como as forças habituais da mecânica, tipo bola de bilhar sobre outra bola de bilhar, acção e reacção, aquilo a que se pode chamar ‘força local’. Feynman chega ao ponto de caracterizar a força electromagnética pela “propriedade de gostar de repelir e não de atrair” (p. 58).” (sublinho) (ver extracto “Entropia dos astros e dos átomos” na mensagem 43).
1. “… gostar de repelir e não de atrair.” É facto que os cientistas - nomeadamente nestes contextos, os físicos, químicos e biólogos - gostam de usar uma linguagem metafórica para serem mais claros nas explicações aos leigos, e não só, creio. Mas não serão pensados por essa mesma linguagem? 2. Aliás, eles fazem questão de usar a linguagem duplamente articulada, seja falada seja escrita. Mas porque é que não se questionam de maneira razoável, me parece, acerca das implicações que esta mesma linguagem exerce sobre o seu modo de pensar e experimentar laboratorialmente? 3. Porque não há dúvida que há um culto por parte dos homens destas ciências pela divulgação das suas descobertas e investigações, mediante a escrita (livros, artigos em revistas…) e a fala (conferências, entrevistas, etc.) Porquê este fosso?
6/3/2012
F.B. : A esta questão não respondo. Não faço psicologia de cientistas, eles pensam o que podem. Interessam-me os paradigmas, o que posso entender deles. O Feynman é fora de série, o livro dele foi feito duma série de lições que deu durante 2 anos, 1961-2, aos alunos de física que entravam na Faculdade, porque chegaram à conclusão que lhes faltava uma visão de conjunto dos problemas. Essas lições tornaram-se um clássico de pedagogia de Física, ele sendo muito livre a imaginar exemplos, o texto é por isso muito interessante para um curioso como eu. Só quero dizer bem dele e agradecer-lhe que diga tão claramente o que os físicos ainda não sabem, nós não saberíamos dessa ignorância - que deveria envergonhar qualquer físico ufano da sua disciplina, de tal maneira se trata de questões chaves - se não fosse ele, porque creio que a maior parte dos físicos nem se tinha dado conta dela, provavelmente ainda hoje, passados 50 anos.
E obviamente que estou muito agradecido também aos cientistas que fazem divulgação científica, os textos entre eles são ilegíveis para nós. As metáforas são muito significativas, ainda bem que eles as usam, mostram-nos como pensam, as lacunas da teoria. Em tudo isto não há conflitos de pessoas de departamentos diferentes, há o que Kuhn chamou irredutibilidade de paradigmas. O Levinas disse do Derrida que ele mostrava como "a história da filosofia não é provavelmente senão uma consciência crescente da dificuldade de pensar". Se é assim para os filósofos, pior um pouco para os cientistas e para os que querem aliar uns e outros. Só um louco...
6/3/2012
Imagem: fotografia - obra plástica de Luís de
Barreiros Tavares
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