quarta-feira, 14 de março de 2012

37. Forças. Gravitação. Maçã de Newton.


-

L.T. : Estou a ler o capítulo 13 ("Démonstration de la thése de la vérité") do Le Jeu des Sciences... Há uma questão que me causa espanto. A gravitação é estrutural, se dizer se pode, ao Universo, embora, se bem entendi, as forças atómicas, nucleares (neutrões e protões: stricture; estritura) e dos electrões (electromagnéticas) não sejam propriamente gravitacionais. No entanto, chamas a atenção para um ponto: "À des échelles trés petites, des forces nucléaires (ou bien est-ce le champ de la gravitation qui, à cette échelle, est nucléaire) [segue-se um longa nota de rodapé] retirent strictement les protons et neutrons des champs de transformations chimiques et de gravitation (...)" (13.75). Portanto, me parece que deixas no ar que a gravitação na condição de 'campo' passa pelas ditas escalas atómicas.
Mas como se explica então que o próprio Newton diga o seguinte: "« não consegui ainda deduzir dos fenómenos a razão destas propriedades da gravidade e não imagino hipóteses (hypothesim non fingo)»" (citação recolhida do teu artigo publicado no Público: "A maçã de Newton"). 'Fingo' no sentido de 'imaginar, 'representar', como referes no mesmo artigo e analisas melhor no Jeu (nota de rodapé 34 de 8.28). A seguir àquela citação escreves: "O 'óbvio' é, 21 anos mais tarde, irrepresentável para ele : a ideia de uma força de atracção a distância. Ora, justificada matemática e experimentalmente, ela permanece, ainda hoje, incompreensível, nem Einstein foi capaz de ‘compreender' esta atracção." E um pouco adiante no mesmo artigo: "Feynman dizia-o nas suas lições de 1961: não se sabe o que é a energia, nem a energia nuclear, donde vem a força nuclear, nem o porquê da inércia e do mecanismo da gravitação."
Ora, sendo a gravitação um motivo tão crucial como é que permanece um enigma?

27/02/2012


F.B. : Excelente questão. Um primeiro ponto, creio eu, é que desde Newton que os exemplos das bolas de bilhar que se põem em movimento umas às outras por uma força, aquilo a que chamo 'forças locais', são predominantes em Física, até ao Stephen Hawking (forças transmitidas por partículas!), pelo menos. O que não ajuda a pensar a atracção a distância. Julgo que o magnetismo também é um parente pobre na física actual. Mas a dificuldade da tua pergunta é: como é que se pode saber porque é que não se compreende? só se pode saber depois de compreender. O que eu estranho é que o Feynman, que dizem que era um génio, diga aquela lista de ignorâncias e não se veja que os físicos estejam preocupados com elas. Vai em anexo um texto inédito sobre estas questões (no próximo mail). [ver texto na mensagem 43]
28/02/2012

-


Imagem: pintura - obra plástica de Luís de Barreiros Tavares

Sem comentários:

Enviar um comentário