quarta-feira, 14 de março de 2012

40. Energia, força e entropia.


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L.T. :
"Energia, força e entropia
39. Se os grandes ‘génios’ da Física, desde Newton até Feynman, não conseguiram, a partir das ‘substâncias’, imaginar o que são as forças atractivas, a energia e a inércia, não se tratará de esperar um futuro ‘génio’ que o consiga; é mais provável pensar que o problema está mal posto: porque não partir destes motivos ‘ignorados’ para compreender melhor o que são as substâncias? " (ver mensagem 43)
1. A 'des-substancialização', se bem entendi, é próxima da questão de ‘campo’ que defendes. Mas poderemos aproximar a questão da des-substancialização de um processo evolutivo da revolução coperniciana de Kant, estabelecendo um paralelo entre 'fenómeno' e 'des-substancialização'? Em caso afirmativo, isto leva-me a pensar que, numa primeira abordagem, sustentas uma espécie de reformulação da revolução coperniciana (1). Todavia, propões também uma tentativa de “compreender melhor as substâncias” partindo dos motivos 'ignorados' e dando por assim dizer como que uma volta ao problema (vj. citação). Um paradoxo? Seguindo uma terminologia frequente nalguns dos teus textos, diria um 'duplo gesto'. Portanto, neste duplo gesto, me parece que buscas analisar as problemáticas do ‘numeno’ (substâncias, forças locais… ; é possível esta extrapolação ou analogia?) e do 'fenómeno' (campo, forças… ; é possível esta extrapolação ou analogia?). Superando, digamos, a anterior oposição numeno /fenómeno mas também a de sujeito /objecto. Há aqui alguns pontos possíveis de analisar segundo os teus textos no quadro da tua proposta de uma 'nova fenomenologia'?
Em suma: Mesmo que não se trate bem disto, tenho dificuldade em compreender a questão das 'substâncias' e da 'des-substancialização'.
(1): Note-se que não pretendo dizer que propões uma nova revolução coperniciana. Tento somente estabelecer alguns paralelos e analogias, partindo da leitura que fiz do teu texto para facilitar o levantamento e clarificação de algumas questões.
2. O 'gravitão' é o 'bosão'?


3/3/2012
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F.B. : Não creio que a minha proposta tenha a ver com o par fenómeno / númeno. A des-substancialização parece-me ser o efeito fundamental da fenomenologia do Husserl: des-substancializar a consciência pela intencionalidade, só é consciência enquanto consciência de coisas (contra a 'res cogitans'), e reduzir a empiricidade substancial destas; no Heidegger, o Ser não é ente, é 'nada', não é coisa, não é substância, mas diferença ontológica para elas; igualmente, a différance de Derrida. Ou a diferença de Saussure, na língua não há sons, substâncias, vozes, que tudo isto releva das falas. Mas penso que foi a física que a introduziu no pensamento, implicitamente pela equação e medidas, que são apenas diferenças (medidas de tempo, de espaço, de massa) de 'realidades' não susceptíveis de serem compreendidas nelas mesmas, nada substancial (é certo que nem o tempo nem o espaço são substâncias: donde talvez que as formas a priori do Kant sejam des-substancializadas). No caso da Física, as 'substâncias' (graves e astros) vieram a ser compreendidas como feitas de átomos e moléculas. A viragem (coperniciana) de Newton na demonstração do heliocentrismo que resumi em cima consistiria em ele partir do campo de forças como meramente diferencial (diferenças de forças) para compreender o que elas atraem ou ligam, o que se pode generalizar: como as f. da gravidade ligam graves e astros, as f. nucleares ligam protões e neutrões, as f. moleculares ligam electrões. Essas forças, o Newton e o Feynman não as 'imaginaram' ou entenderam, porque, penso eu como hipótese, quiseram imagináa-las como as forças locais (um pontapé numa bola) que não são atractivas nem geram campos. O teu 2º ponto. É esta concepção de forças locais que me parece estar no coração da noção do Hawking e outros físicos actuais que os leva a pensar que a força da gravidade precisa de ter umas partículas em que esteja, o tal 'gravitão' que me parece uma alucinação dos físicos, que também ligam as forças nucleares e electrónicas a partículas. Não é nenhum bosão, mas confesso que não me interessa muito saber o que são bosões e outras partículas dos físicos, não sei que interesse a mecânica quântica pode ter para compreender a física que me interessa, a dos graves, átomos e moléculas (mas é claro que a minha ignorância é muito grande). Assim como em biologia me interessa muito a anatomia que os genéticos tendem a passar para 2º plano, há algo parecido na física quântica (para além do interesse que ela tem em tecnologias recentes em supracondutores e coisas dessas, que também não me interessam).
4/3/2012
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Imagem: pintura - obra plástica de Luís de Barreiros Tavares


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