segunda-feira, 19 de março de 2012

48. O retiro doador é um efeito de algo que já lá não está...


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L.T. : Então poder-se-á estabelecer uma analogia, compreendendo a cena de inscrição como uma espécie de retiro doador histórico?
13/03/2012
F.B. : O retiro doador é um efeito de algo que já lá não está: os meus pais, que aliás já morreram, mas qualquer mãe, o que nos é 'dado' como alimento em cada dia, aqueles com quem aprendemos, os antepassados, deram-nos o que somos, retirando-se. A cena de inscrição é uma cena histórica feita de textualidade que se re(pro)duz de autores em leitores que se tornam autores, que se traduzem em línguas várias e por isso não releva apenas duma sociedade, mas da 'civilização' enquanto históri(c)a. Ela implica instituições, escola, igrejas e sinagogas, laboratórios científicos, editores de livros, médias, etc, mas que pertencem, enquanto instituições, à cena da habitação social; na cena da inscrição não 'há' senão diferenças linguísticas e textuais, matemáticas, que são re(pro)duzidas e alteradas, tradição e ruptura de cada vez vezes sem conta. Essas instituições, que se justificam por causa das inscrições, são o retiro doador delas, inverso da tua proposta talvez, excepto o termo 'histórico', que dá para ambas as cenas. Haverá alguma doação retirada ao nível de cada nova inscrição, inerente à cena da inscrição? os textos que li ficam em retiro doador naqueles que escrevo, as tais citações em amálgama de que escrevia um dia destes, mas também os textos de autores que me dão pensar, mormente os que são citados explicitamente, aqueles que eu posso referir se me perguntam donde me vem tal ou tal ponto do meu texto...
13/03/2012



Imagem: pintura - obra plástica de Luís de Barreiros Tavares

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