quinta-feira, 13 de setembro de 2012

104. Diversos - Com Husserl, Heidegger e Derrida




L.T. : Escrito de seguida, nos campos que nos interessam tenho dado atenção ao texto extraordinário "Ousia e grammê" do Derrida a propósito da "presença do presente" com o "ser enquanto ente" (particípio presente - étant - seiende) a que Derrida chama a atenção no que respeita à crítica de Heidegger à ontologia e metafísica da tradição ocidental (nomeadamente também a onto-teo-logia...) que "esqueceu o sentido do ser" (o ser de o ente), para o qual Derrida, por seu turno, fala da trace na sequência do seu pensamento (no vídeo que está na mensagem 30 deste bLogos:http://blogoscomfbeloperguntaserespostas.blogspot.pt/2011/08/normal-0-21-false-false-false-pt-x-none_7744.html
São questões realmente muito importantes. Há pontos aqui que me interessam mesmo muito, mas ainda está pouco claro e preciso ler melhor.
Queres fazer algum comentário a estas questões e a alguma nota menos esclarecedora do que disse acima?

12/09/2012


F.B. : Para dizer a verdade, as questões que tu colocas, não as trato já de forma exegética, andar à procura dos textos do H e do D. Agora, cheguei à minha maneira - com eles e com as ciências - a uma compreensão deles que me parece fecunda, mas mais não posso asseverar.

O que o Heidegger censura à metafísica é justamente ter pensado o ser a partir do ente (a definição!), e é isso para ele a ontoteologia, que o platonismo cristão endureceu fortemente: o Criador e cada criatura, mormente a 'alma' dos humanos, que veio na modernidade europeia a ceder ao sujeito / objecto. Penso que o Heidegger atingiu o ponto máximo do seu pensamento na conferência Tempo e Ser (que Derrida não conhecia, creio, quando escreveu Ousia et grammê), em que o 'ser' volta a ser o 'ser do ente' e é substituído (o 'ser' é doação que se retira) pelo Ereignis, que no seu sentido habitual de 'acontecimento' engloba ser e tempo indissociavelmente: o Ereignis 'dá' ser e tempo a todos os entes. Acho que ele buscou isto desde o fim do Ser e Tempo.

O que o Derrida ataca, com a questão da 'escrita' (gramme, trace, différance) é o que no Heidegger permaneceu por pensar, o privilégio do Dasein; não me parece que ele o tenha 'submetido' à doação do Sein ou do Ereignis final (nos seminários dos anos 60, Questions IV, reli-os há algumas semanas) a questão nunca aparece, fica sempre na sombra, como se ele não tivesse rompido com o logocentrismo, por causa do papel de fundo do pensamento. Em todo o caso, Derrida assinala algures sintomas de abaixamento da escrita em Heidegger que são sintomáticos, como da ciência e da técnica, que são formas de escrita, de gramme, trace.
Radicalização da destruição da ontoteologia: desconstrução, que, para mim, atinge pontos incríveis (não consigo acompanhar por ignorância) na leitura dos textos literários. O motivo do texto é crucial nele, Heidegger ignorou-o completamente.

Dito isto, o que eu faço é muito mais modesto; metendo as ciências ao barulho, reformulo a problemática das ciências do Husserl, como posso e sei, é claro, mas crendo que há aí coisas que valem a pena para quem, não sendo muito forte, queira perceber alguma coisa deste mundo actual tão mortífero em suas crises.

12/09/2012

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L.T. : Talvez tenhas razão quanto ao Derrida não conhecer ainda Tempo e Ser quando escreveu Ousia e grammé. Mas no vídeo que indiquei e pode ser visto no link acima, certamente já o conheceria. Mas não sei bem o que quero dizer com isto. Ando aqui um bocadinho às cegas.

17/09/2012

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Imagem: obra plástica de Luís de Barreiros Tavares - 2012

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