L. T. : Hoje fala-se a torto e a direito de 'categorias'. É categoria para aqui, categoria para ali, categoria para acolá... Tão banalizado está esse uso que se tornou como que uma nova 'muleta' do discurso, como se costuma dizer. No campo das ciências sociais ou humanas incluindo as filosofias ou a filosofia que também é uma ciência humana como as outras - para não cair em certas presunções-, nas chamadas crítica e teoria da cultura, na arte e não sei mesmo se nas ciências físicas, ou pelo menos nos cientistas quando escrevem os seus textos, todos estes campos do saber e do pensar estão carregados de categorias e de alusão às categorias.
Suponhamos então que te diziam numa conversa ou num debate por exemplo "um 'fonema' e um 'monema' são categorias como muitas outras".
12/06/2012
F. B. : Citando Derrida, que discute um texto do grande linguista E. Benveniste (“Catégories de pensée e catégories de langue”): “As categorias de Aristóteles são ao mesmo tempo de língua e de pensamento: de língua enquanto elas são determinadas como resposta à questão de saber como o ser se diz (legetai); mas também como se diz o ser, como é dito o que é, enquanto é, tal como é: questão de pensamento, o pensamento, a palavra ‘pensamento’ que Benveniste utiliza como se a sua significação e a sua história fossem óbvias, não tendo nunca querido dizer nada fora da sua relação ao ser, à verdade do ser tal como ele é e enquanto ele é (dito). O ‘pensamento’ – o que vive sob esse nome no Ocidente – nunca pôde surgir ou anunciar-se fora duma certa configuração de noein (pensar), legein (dizer) e einai (ser) e dessa estranha mesmidade de noein e de einai de que fala o poema de Parménides”[1]. Mesmidade, acrescento eu, que se pode enunciar como ‘dizer (que) pensa o ser’.
Não sei se conheces esta citação. Ela mostra como um grande linguista baralha a categoria grega de 'categoria'. O Aristóteles é neste ponto parmenidiano, o logos é linguagem, pensamento e o ser que ele diz. O Platão também. Enquanto se filosofe em grego, no helenismo, julgo que não houve alterações de maior. Os problemas vieram com o nominalismo medieval, com o Occam que pensa em latim mas é inglês, sabe da diferença de línguas (que os Gregos clássicos ignoraram, as línguas 'bárbaras'!) como já os Estoicos que introduziram o motivo do 'signo', com nome, significado (lekton) e coisa nomeada. Ora o Occam, lógico e conhecedor da psicologia de Avicena, misturou as duas coisas (que creio que o Aristóteles deixara autónomas) e eliminou a linguagem, ou melhor, secundarizou-a em relação ao 'nome mental' que para ele, lógico, não tinha equívocos (polissemia, a bête noire de lógicos e filósofos, contra a qual se inventou a definição). Ora, três séculos mais tarde, via Suarez, esta 'separação' entre o 'nome mental' (inteligível) e a coisa sensível encontrou o seu pensador, Descartes e as duas 'res', a cogitans como reino das 'ideias' nomeadamente. Os clássicos, desde ele até Kant, tanto racionalistas como empiristas, divertiram-se a inventar maneiras de ligar sensações, ideias, imaginações, etc. E as ciências beneficiaram muito disso, até hoje: o que significa que a tua pergunta não tem resposta senão: 'depende' do que se trata.
Penso poder dizer pacificamente, em relação à minha proposta fenomenológica, que 'fonema' e 'monema' são categorias do laboratório linguista estrutural, e que outros laboratórios têm as suas. É claro que também tal e tal escola filosófica ou tal e tal autor, terá as 'suas' categorias.
Por mim, que desconfio desta idealidade europeia, ideia, conceito, noção, categoria, e não sei que mais, prefiro falar de 'motivo', que é 'causa que dá movimento'.
Não sei se conheces esta citação. Ela mostra como um grande linguista baralha a categoria grega de 'categoria'. O Aristóteles é neste ponto parmenidiano, o logos é linguagem, pensamento e o ser que ele diz. O Platão também. Enquanto se filosofe em grego, no helenismo, julgo que não houve alterações de maior. Os problemas vieram com o nominalismo medieval, com o Occam que pensa em latim mas é inglês, sabe da diferença de línguas (que os Gregos clássicos ignoraram, as línguas 'bárbaras'!) como já os Estoicos que introduziram o motivo do 'signo', com nome, significado (lekton) e coisa nomeada. Ora o Occam, lógico e conhecedor da psicologia de Avicena, misturou as duas coisas (que creio que o Aristóteles deixara autónomas) e eliminou a linguagem, ou melhor, secundarizou-a em relação ao 'nome mental' que para ele, lógico, não tinha equívocos (polissemia, a bête noire de lógicos e filósofos, contra a qual se inventou a definição). Ora, três séculos mais tarde, via Suarez, esta 'separação' entre o 'nome mental' (inteligível) e a coisa sensível encontrou o seu pensador, Descartes e as duas 'res', a cogitans como reino das 'ideias' nomeadamente. Os clássicos, desde ele até Kant, tanto racionalistas como empiristas, divertiram-se a inventar maneiras de ligar sensações, ideias, imaginações, etc. E as ciências beneficiaram muito disso, até hoje: o que significa que a tua pergunta não tem resposta senão: 'depende' do que se trata.
Penso poder dizer pacificamente, em relação à minha proposta fenomenológica, que 'fonema' e 'monema' são categorias do laboratório linguista estrutural, e que outros laboratórios têm as suas. É claro que também tal e tal escola filosófica ou tal e tal autor, terá as 'suas' categorias.
Por mim, que desconfio desta idealidade europeia, ideia, conceito, noção, categoria, e não sei que mais, prefiro falar de 'motivo', que é 'causa que dá movimento'.
[1] “Le supplément de copule, La philosophie devant la linguistique”, Marges, de la Philosophie, Minuit, 1972, p. 218. Benveniste propôs-se ler a lista das dez categorias como um bom “documento” para demonstrar que essas célebres categorias não eram categorias da língua grega (o que são, mas não de todas!).
13/06/2012
L.T. : Eis uma resposta com categoria! Já tinha lido aquela citação mas acho que não lhe dei a devida importância...
13/06/2012
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