terça-feira, 26 de março de 2013

133. O 'Ereignis' - Heidegger - Uns apontamentos...






L.T. : Por falar em 'presença' e 'co-presença', no final do meu texto anterior, não é interessante e extraordinário o seguinte passo de Heidegger em Identidade e Diferença (Identité et Différence (1957), Questions I, Gallimard,)? : "Et l´être? Pensons l'être en son sens initial, comme présence. L'être est présent à l'homme d'une façon qui n'est ni occasionelle, ni exceptionnelle. L'être n'est et ne dure que parlant à l'homme et allant ainsi vers lui. Car c'est l'homme qui, ouvert à l'être, laisse d'abord celui-ci venir à lui comme présence. Pareille aproche, pareille présence a besoin de l'espace libre d'une éclaircie et ainsi, par ce besoin même, demeure transpropriée  à l'être de l'homme." (p.266)
E não é de ter em conta que Heidegger nos fale nas páginas anteriores de co-pertença ("coappartenance" (pp.261-266); "comum pertencer", na versão brasileira por Ernildo Stein)? E também, nas páginas seguintes à citação acima, a meditação do Gestell (das Gestell; Ge-Stell)? E logo a seguir aborde o Ereignis (acontecimento, co-propriação...), estabelecendo alguns nexos com estes temas?
Sabemos que consideras decisivo Tempo e Ser com a meditação do Ereignis (1962). No entanto, gostaria de perguntar-te: como marcas o Ereignis na linha do que apresentei acima e ao mesmo tempo no contexto de Zeit und Sein que me é ainda um tanto inacessível?
Espero que haja aqui algum ponto que te interesse e te dê tempo a pensar.

24/03/2013

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F.B. : Quanto à citação do Heidegger, devo dizer que não sou heideggeriano em sentido estrito, interessam-me as questões que ele abriu, transformou, mas leio-as tendo em conta o Derrida, por um lado, e tanto quanto eu o entendo, por outro. Essa citação que te entusiasmou não me diz grande coisa.

Sobre o Ereignis de 62, há que dizer que  julgo que para ele tem algo como o que o Kuhn diria uma mutação do paradigma civilizacional da modernidade, algo de visionário do que vem acabar e ultrapassar a metafísica.
 O que eu fiz foi entendê-lo no sentido da diferença ontológica entre Ser e ente (o Ser como doação que se retira, phusis ou Terra, noutros textos), que vem desde o princípio dos anos 30 (A essência da Verdade): o que me parece fabuloso é ter substituído o Ereignis ao Ser e colocar este em linha com o tempo, como se o Ser voltasse ao clássico 'ser do ente' mas que, com o tempo, diria a reviravolta de Ser e Tempo para Tempo e Ser. E o que dá, o Ereignis, implicar multiplicação de entes e temporalidade ('acontecimento' em sentido corrente), e já não o Um, o Nome simples (final do texto de Derrida La différance, nas Marges). O que haverá de visionário (cheirou-me de certos textos, agora já não sei onde) não será incompatível com isto, pelo contrário, mas isto é mais alcançável (por mim, pelo menos). Medir, como tentei no cap. 13 de Le Jeu des Sciences, a maneira como ele descobre e ultrapassa Aristóteles, a oposição ousia / acidentes.
Voilà.

25/03/2013

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