quinta-feira, 19 de abril de 2012

58. Inteligibilidade



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L.T. :
Remeto para o capítulo "Como definir a linguagem humana" e principalmente o § 35 do La philo avec sciences (o capítulo integral encontra-se na mensagem 7 deste blog). Não vou alargar-me muito para tentar ser mais concreto e não andar muito tempo aqui às voltas, pois estou a fazer leituras.
1. Por exemplo, como se marcam as diferenças a) fonemas (letras) ("que não querem dizer nada", "não são imagem de nada" §35) / b) o famoso "inteligível", ou antes e duma maneira geral, "inteligibilidade", que ainda hoje tanto nos assaltam nos meios académicos e, pretensamente, não é imagem de nada e não quer dizer nada (a não ser literalmente)? Pude verificar este primado da inteligibilidade nos meios académicos nas três Faculdades de Filosofia que frequentei, Católica, Clássica e Nova, na qual conclui a licenciatura.
2. Esta inteligibilidade tem a ver com a ontoteologia que referes?
25/03/2012
F.B. : A inteligibilidade oposta a e subordinando a sensibilidade: é a metafísica, segundo Heidegger, erigida por Platão (e sua doutrina da verdade). O Derrida argumenta sobre a 'différance' algo que se pode dizer da linguagem, como creio ter-te lembrado um dia destes. As letras/fonemas não são imagens de nada, não têm significado, não reenviam para coisas; são escritas/ditas por grafias/vozes diferentes e portanto não se pode dizer que o 'som', as vozes fazem parte dela, são as suas diferenças em cada grafia/voz que são as mesmas, se repetem em todos. A linguagem não é sensível; mas sendo diferenças do sensível, também não é inteligível, outro do que o sensível, oposto a ele: o sentido duma frase não é portanto uma idealidade, uma 'ideia', que com o 'som' faria um signo com duas faces, como o corpo e a alma. Conclusão: a linguagem nunca foi domesticada pela metafísica. Quando relevava do logos, nos tempos gregos sem tradução, o problema só se pôs, para o Aristóteles, no tratado da alma, e julgo que não é por acaso que o logos não tem aí lugar, ele tão importante em outros textos. Porque a questão é justamente explicar como se passa do sensível (órgãos dos sentidos) para o inteligível, a linguagem não joga nessa passagem (creio, passei os olhos há dias pelo tratado).
25/03/2012



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Imagem: pintura - obra plástica de Luís de Barreiros Tavares

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