segunda-feira, 17 de junho de 2013

142. Mais algumas discussões sobre Heidegger e outros...










L.T. : Se bem entendi, seguindo a tua leitura, o Ereignis dá o acontecimento e ser (?) no jogo do aleatório, do acaso e da necessidade, do aleatório e do múltiplo dos acontecimentos, prévios a ele, ao uno e ao ser (vj. Heidegger, Pensador da Terra). Gostava de perguntar-te se o Ereignis - não dissociando tempo e ser (em Zeit und Sein) -  sendo algo outro que não o ser no sentido de Ser e Tempo (em Sein und Zeit), mantém alguma possibilidade de compreensão e relação com o 'horizonte', prévio às coisas (Heidegger), demarcando-se do sentido de horizonte em Husserl que demanda o objecto já como tal.

13/06/2013

-

F.B. : Não sei.

13/06/2013

-

L.T. : Tinha-me esquecido de pôr o assunto na mensagem. Mas boa malha na resposta.

14/06/2013

-


F.B. : Não sei bem como é que a questão do horizonte se punha em Ser e Tempo e muito menos no Husserl. Antes das coisas? sim, a sala antes dos móveis e das pessoas que lá estão, mas esse 'antes' é 'com' elas. Não há horizonte sem coisas, como mostra bem a citação do Condillac de que te falei, que é algo de extraordinário: o bébé que nasce não vê nada, não sabe ainda ver, vai aprendendo. Grande novidade no pensamento europeu! Chega para derrotar Kant!
Mas o horizonte é um motivo que diz o limite inatingível e deslocável da percepção visual. O que quer dizer que haverá também uns tantos quilómetros como horizonte de ouvir certos ruídos, o fogo além do horizonte da mão, e por aí fora, várias horizontes. O ser no mundo será susceptível de horizonte, o das suas possibilidades nesse seu mundo.


A questão do Ereignis em relação ao Ser de Ser e Tempo é para mim mais interessante, já que tudo se passa como se o 'ser' em Tempo e Ser, sendo substituído no lugar de doação retirada pelo Ereignis, voltasse a ser o 'ser do ente' clássico, a par do tempo como 'tempo do ente' (e não o  tempo dos relógios). Mas como é com o 'espaço' que o tempo faz parceria, esse 'ser e tempo' final será por fim a ousia incorporando os acidentes (temporais), Aristóteles e toda a filosofia ocidental ultrapassados. 

Derrida deixará cair a categoria de 'ser': a différance e a trace são movimento (como o Ereignis) que 'faz' diferenças (repetidas e excedendo essa repetição) espácio temporalizadas com relação estrutural ao outro (diferendo incluído) e inscrição (trabalho na origem da linguagem). 
Com ele, muda o mundo! por isso não o suportam os filósofos. 
Devo dizer que, embora me custe, é bem feito! pois que mudar o mundo é que não se faz.
E foi um dos grandes gostos da minha vida!

14/06/2013




Imagem: desenho - obra plástica de Luís de Barreiros Tavares

Sem comentários:

Enviar um comentário