Este blogue reúne na sua maior parte e-mails com perguntas e respostas em torno de pontos filosóficos precisos de textos de Fernando Belo e de outros autores. Acrescentaram-se entretanto alguns vídeos. Um blogue de Fernando Belo e Luís de Barreiros Tavares
terça-feira, 29 de maio de 2012
82. O corpo
L.T. :
1984a, «Ceci est mon Corps: mais que peuvent nos corps?», Lumière & Vie, dossier Destin du corps, Histoire du salut, XXXIII, n. º 166, pp. 67-83.
1884b, «Proposition d'une méthodologie d'analyse des logiques d'un corps proverbial», Richesses du Proverbe, vol. 2, Typologie et fonction, Université de Lille III (communications au Colloque de Parémiologie, Lille, 6-8 Mars 1981), pp. 25-36.
Não tenho e nunca li estes textos.
"Remarquons que dans ce champ [Linguistique] on parle souvent de 'corpus'
de textes." La philosophie avec sciences ....., § 3
"A questão que tu pões: porque é que eu falo pouco delas [categorias]?"
Porque é que falas pouco do corpo?
29/05/2012
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F.B. : O José Gil nas Metamorforses do corpo, lembra o que contou um missionário ou um antropólogo Leenhardt (?), a quem um indígena respondeu - à pergunta sobre o que é que os Europeus lhes tinham levado a eles, se tinha sido o 'espírito' - que não, o espírito eles já conheciam, levaram-lhes sim o 'corpo'.
Quando conheci o Derrida em novembro de 84 em Lisboa, estava a dar nesse ano o 'corpo' justamente em Filosofia da linguagem. E a razão era que tinha chegado à conclusão que a minha perspectiva sobre a linguagem - com forte inspiração linguística e estruturalista mas querendo-me derridiano - era como se fosse conivente com a alma, não 'pegava' no corpo. Li Lévi-Strauss, psicanálise, biologia. Ora bem, falando disso com o Derrida, a quem poderia objectar o mesmo que me objectas, também não escrevia sobre o corpo, ele respondeu-me que quando se usa a palavra 'corpo', a palavra 'alma' vem também, ainda que não se diga. O que quer dizer que ele escreve daquilo que se chama corpo, como se poderia evitar? mas noutras 'categorias', não ontoteológicas, digamos.
O ser no mundo é 'fora' do corpo e da alma. Heidegger no Ser e Tempo diz que não fala de sujeito, alma, homem, consciência, espírito, por razões parecidas: são maneiras de dizer que dependem da oposição dentro / fora e do primado do dentro. (Por acaso da tua citação dum título meu, penso que há um erro abissal no cristianismo, muito antigo, ao interpretar o 'isto é o meu corpo' como sendo o 'corporal' de Jesus, quando muito provavelmente é o que Paulo chamava o Corpo do Messias, o conjunto dos crentes nele, que nos evangelhos sinópticos corresponde à figura do Filho do Humano).
O corpo são vísceras, sermos no mundo é sermos no nosso contexto e naquilo que estamos dizendo ou em que estamos pensando, fora pois, e com a arte de nos retermos, guardarmos segredo ao mundo disto ou daquilo que preservamos. O corpo é limitado ao que está dentro da pele, definido pela pele, arrancado ao contexto, como o 'objecto' e o 'sujeito'. É o que oferecemos ao médico, e bom é que ele se interesse além da química.
29/05/2012
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L.T. : Fui consultar. Cito:
"O corpo comunitário implica uma vivência do corpo singular como não separado, não isolado das coisas e dos outros corpos. O «corpo próprio» que a fenomenologia erigiu em conceito, é um produto do Ocidente - não é o que quer dizer o Caledoniano cristianizado ao qual o missionário Leenhardt perguntava: «Em suma, é a noção de espírito que nós trouxemos para o vosso pensamento?» e que respondia: «O espírito? Oh! Vós não nos trouxestes o espírito. Já conhecíamos a existência do espírito. (...) O que vós nos trouxestes foi o corpo» [Leenhardt, M., (1947), Do kamo. La personne et le mythe dans le monde mélanésien, Gallimard, Paris, p.212]."
José Gil, Metamorfoses do Corpo, Lisboa, Regra do Jogo, 1980, p.48
José Gil, Metamorfoses do Corpo, Lisboa, Relógio D'Água, 1997, p.58
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